sábado, 21 de setembro de 2013

Saudade dói




Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua,
dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.

Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade de um filho que estuda fora.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor,
Ou quando alguém ou algo não deixa que esse amor siga,
Ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
(...)

Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos;
não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento;
não saber como frear as lágrimas diante de uma música;
não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer;

Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você,
provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler...

Martha Medeiros

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Despedidas


"Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar..."

Encontros e Despedidas

sábado, 7 de setembro de 2013

O rio e a vida




Outro dia, lendo algum artigo bobo, uma frase me chamou a atenção: "Não apresse o rio. Ele corre sozinho." A princípio, apesar da simplicidade da frase, considerei muito coerente com a situação na qual me encontro. Escrevi bem grande e coloquei num painel negro que fica em frente a minha cama.

Dias depois de ler e reler aquela frase, pensei: realmente que não há como, naturalmente, apressar um rio. Mas quem disse que um rio corre numa velocidade só? Há trechos onde pode parecer que água é quase parada e outros onde há correntezas perigosas e corredeiras traiçoeiras. 

E conclui que o rio é como a nossa vida. Não há como apressá-la, nem como detê-la. Ela corre sozinha e, no seu curso, encontramos nossas correntezas e corredeiras.

Queria que a vida não fosse como o rio, na verdade. Sabemos que todo rio vai dar no mar e que todos nós somos seres imortais. Ou seja, sabemos o final da história... E não ter controle sobre seu curso não é uma ideia agradável. É uma opinião pessoal e muito, muito relacionada a um momento específico. Mas questiono onde está o nosso livre-arbítrio se não temos controle sobre o curso desse rio. Devemos apenas entrar e permitir que ele nos leve como quiser? 

Não. Definitivamente, não. Ou a minha conclusão está equivocada - a nossa vida não é como um rio - ou eu simplesmente me nego a navegá-lo, se não tenho nenhum controle.
Lysia Gouvêa

Diana Krall - I've Got You Under My Skin

Elvis Costello - I'll never fall in love again

David Gilmour & David Bowie - Comfortably Numb

ALVIN LEE & TEN YEARS AFTER - Bluest Blues

Phil Collins - Everyday (LP Version)