sábado, 5 de outubro de 2013

Pedaços de mim

PEDAÇOS DE MIM


Eu sou feita de
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos

Sou feita de
Choros sem razão
pessoas no coração
atos por impulsão

Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci

Eu sou
Amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por instante

Já tive 
Noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas

Muitas vezes eu
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir para não enfrentar
sorri para não chorar

Eu sinto pelas
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei

Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo

Mas continuo vivendo e aprendendo

Martha Medeiros

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

SE EU MORRER ANTES DE VOCÊ


SE EU MORRER ANTES DE VOCÊ




Se eu morrer antes de você, faça-me um favor:
Chore o quanto quiser, mas não brigue comigo.
Se não quiser chorar, não chore;
Se não conseguir chorar, não se preocupe;
Se tiver vontade de rir, ria;
Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão;
Se me elogiarem demais, corrija o exagero.
Se me criticarem demais, defenda-me;
Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam;
Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo...
E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase:
-"Foi meu amigo, acreditou em mim e sempre me quis por perto!"
Aí, então derrame uma lágrima.
Eu não estarei presente para enxugá-la, mas não faz mal.
Outros amigos farão isso no meu lugar.
Gostaria de dizer para você que viva como quem sabe que vai morrer um dia, e que morra como quem soube viver direito.
Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura aqui mesmo o seu começo.
Mas, se eu morrer antes de você, acho que não vou estranhar o céu.
"Ser seu amigo, já é um pedaço dele..."

Chico Xavier

sábado, 21 de setembro de 2013

Saudade dói




Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua,
dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.

Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade de um filho que estuda fora.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor,
Ou quando alguém ou algo não deixa que esse amor siga,
Ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
(...)

Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos;
não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento;
não saber como frear as lágrimas diante de uma música;
não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer;

Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você,
provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler...

Martha Medeiros

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Despedidas


"Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar..."

Encontros e Despedidas

sábado, 7 de setembro de 2013

O rio e a vida




Outro dia, lendo algum artigo bobo, uma frase me chamou a atenção: "Não apresse o rio. Ele corre sozinho." A princípio, apesar da simplicidade da frase, considerei muito coerente com a situação na qual me encontro. Escrevi bem grande e coloquei num painel negro que fica em frente a minha cama.

Dias depois de ler e reler aquela frase, pensei: realmente que não há como, naturalmente, apressar um rio. Mas quem disse que um rio corre numa velocidade só? Há trechos onde pode parecer que água é quase parada e outros onde há correntezas perigosas e corredeiras traiçoeiras. 

E conclui que o rio é como a nossa vida. Não há como apressá-la, nem como detê-la. Ela corre sozinha e, no seu curso, encontramos nossas correntezas e corredeiras.

Queria que a vida não fosse como o rio, na verdade. Sabemos que todo rio vai dar no mar e que todos nós somos seres imortais. Ou seja, sabemos o final da história... E não ter controle sobre seu curso não é uma ideia agradável. É uma opinião pessoal e muito, muito relacionada a um momento específico. Mas questiono onde está o nosso livre-arbítrio se não temos controle sobre o curso desse rio. Devemos apenas entrar e permitir que ele nos leve como quiser? 

Não. Definitivamente, não. Ou a minha conclusão está equivocada - a nossa vida não é como um rio - ou eu simplesmente me nego a navegá-lo, se não tenho nenhum controle.
Lysia Gouvêa

Diana Krall - I've Got You Under My Skin

Elvis Costello - I'll never fall in love again

David Gilmour & David Bowie - Comfortably Numb

ALVIN LEE & TEN YEARS AFTER - Bluest Blues

Phil Collins - Everyday (LP Version)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

O Encontro

O ENCONTRO



Desafiar o destino é inerente ao jovem que quer descobrir seu próprio caminho e enfrentar seus desafios. 
Qual pai ou mãe não gostaria de ter a magia de abrir a mente de seus filhos amados e depositar lá seus conhecimentos e experiências a fim de poupá-los de decepções?
Mas a vida é sábia e aos pais não foi dado esse dom. É preciso que cada um trilhe seu caminho, encare seus fantasmas, atravesse seus desertos e enfrente suas tempestades.
A experiência de vida vem desta caminhada. As dores vividas, os desamores, os erros e acertos são o torno que dá acabamento à peça que está se formando.
E as peças são muitas, diferentes e fantásticas. E é essa diversidade de pessoas que faz do mundo um lugar incrível de se viver.
Porém, havia uma pessoa que, desde muito cedo, tinha a certeza do que não deveria viver. Mas vá entender os desmandos desta mente jovem, que queria desafiar o mundo?
E ela foi e viveu. Afinal, tudo poderia dar certo. Mas o que é “dar certo”?
Dar certo pode ser a realização profissional, um casamento bem sucedido, filhos inteligentes e bem encaminhados. Pode ser tudo isso junto ou separado, não é mesmo? Será? 
E se os erros, uma escolha profissional mal feita, um casamento infeliz ou insosso, filhos com destinos menos felizes forem considerados os acertos de uma vida? Loucura? Talvez não.
Talvez seja o despertar para a vida de verdade. Seja a força propulsora para a descoberta da realidade.
Esse nosso amigo passou por uma dessas experiências e logo recebeu a faixa do “não deu certo”. Ele poderia se acomodar, considerar-se vítima das próprias escolhas e viver assim, para o resto da vida que não “deu certo”.
Mas ele sabia que não era bem assim. Havia nele uma energia tal qual a de uma fênix, que sempre renasce das próprias cinzas.
E foi essa energia, aliada a uma forte percepção de que algo havia ainda para ser vivido, que fez com que ele partisse em busca de um novo e desconhecido caminho.
Algo muito forte sinalizava em sua alma. Ele não sabia a o que era. Ouvia, sentia e procurava sem saber o que exatamente buscava.
Passaram-se muitos anos. Mais descaminhos. Mais decepções. Mas algo crescia dentro dele: uma certeza absolutamente incerta.
Ele, enfim, encontrou o que buscava. 
- Assim, tão fácil? 
E quem disse que foi fácil? 
- E o que era?
Ah, meu caro! Era algo que não se explica. Era um momento, senão vários momentos. Era o encontro com a vida. Um oásis. Uma fonte de energia. O infinito dos seus olhos, a sintonia do seu corpo, o encontro da sua pele.
Algo inexplicável, que desde muito jovem ele conhecia sem saber, buscou sem direção e encontrou em meio a uma vida dada como errada.
- E é esse o final da história? 
Qual nada! Esse é o começo da verdadeira história, do encontro com a vida, da real vivência da alma em sua plenitude. 
Lysia Gouvêa